A FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS OSTEOMUSCULARES RELACIONADAS AO TRABALHO

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Emely Kércia Santiago de Souza1

1 Fisioterapeuta, Pós graduada em Fisioterapia em Terapia Intensiva e Fisioterapia Hospitalar.

RESUMO

Introdução: As doenças crônicas que atingem a condição musculoesquelética representam um dos principais problemas para a saúde da população brasileira, principalmente na fase produtiva da vida. Entre essas doenças, enfatiza-se os problemas crônicos de coluna, como as dores lombares, e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Objetivo: analisar a eficácia das medidas de prevenção contra DORT apresentadas pela fisioterapia conforme a literatura. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico, onde realizou-se as buscas dos artigos nas seguintes bases: SCIELO, MEDLINE e LILACS. Resultados: Foram selecionados 10 artigos de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. As populações inclusas nos artigos foram variadas, demonstrando a DORT em profissões e meio de trabalhos diferentes e suas formas de prevenção. Discussão: Cardoso et al (2017) declaram que fisioterapia voltada à saúde do trabalhador deve elaborar ferramentas de diagnóstico da relação causal entre o problema de saúde e a situação ocupacional e conhecer as ferramentas oficiais existentes. O uso integrado desses instrumentos pode ampliar o entendimento do processo saúde-doença e subsidiar as ações fisioterapêuticas na organização do serviço e na elaboração do processo terapêutico. Conclusão: Constata-se a necessidade de uma atuação mais incisiva da Medicina do Trabalho junto às organizações, no tocante à tentativa de corrigir, diminuir ou controlar os fatores de risco quanto a DORT.

Palavras-chave: dort, prevenção, fisioterapia.

ABSTRACT

Introduction: Chronic diseases that affect the musculoskeletal condition are one of the main problems for the health of the Brazilian population, especially in the productive phase of life. Among these diseases, chronic spinal problems, such as low back pain, and work-related musculoskeletal disorders (WMSD) are emphasized. Objective: to analyze the effectiveness of the prevention measures against WMSD presented by physiotherapy according to the literature. Methodology: This is a bibliographical research, where the articles were searched in the following databases: SCIELO, MEDLINE and LILACS. Results: We selected 10 articles according to the inclusion and exclusion criteria. The populations included in the articles were varied, demonstrating the WMSD in professions and means of different works and their forms of prevention. Discussion: Cardoso et al. (2017) state that physiotherapy aimed at the health of the worker must elaborate tools to diagnose the causal relationship between the health problem and the occupational situation and to know the existing official tools. The integrated use of these instruments can broaden the understanding of the health-disease process and subsidize the physiotherapeutic actions in the organization of the service and in the elaboration of the therapeutic process. Conclusion: there is a need for a more incisive performance of Occupational Medicine in organizations, regarding the attempt to correct, reduce or control the risk factors for DORT.

Key words:WMSD, prevention, physiotherapy.

INTRODUÇÃO

As doenças crônicas que atingem a condição musculoesquelética representam um dos principais problemas para a saúde da população brasileira, principalmente na fase produtiva da vida. Entre essas doenças, enfatiza-se os problemas crônicos de coluna, como as dores lombares, e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Os problemas de coluna, também denominados de \’dores nas costas\’, abrangem as cervicalgias, dores torácicas, ciáticas, transtornos dos discos intervertebrais, espondiloses, radiculopatias, e as dores lombares (OLIVEIRA et al, 2015).

DORT se caracterizam por lesões de músculos, tendões, fáscias, nervos, entre outros, com sintomas de dor, parestesia, sensação de peso etc. É de aparecimento insidioso, e sua etiologia é multifatorial e complexa, envolvendo aspectos biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afetivos e psicossociais e fatores relacionados às condições e à organização do trabalho (ZAVARIZZI; ALENCAR, 2018).

Conforme a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e o Ministério da Previdência Social, cerca de 3.568.095 pessoas (2,29%) referiram ter o diagnóstico de DORT dado por médico. Com relação às limitações das atividades diárias causadas pela DORT, como dificuldades em trabalhar, ir ao trabalho, realizar afazeres domésticos e de autocuidado, como vestir-se e tomar banho, quase 16% dos indivíduos referiram que as dores eram intensas ou muito intensas (BRASIL, 2013).

O crescimento das doenças osteomusculares no Brasil deve-se às modificações no processo produtivo, oriundas da modernização. Dentre elas, podem ser citadas as de natureza biomecânicas, como mobiliário inadequado, posturas incorretas ou viciosas, força muscular, repetitividade; e fatores associados à organização do trabalho, tais como ritmo acelerado, falta de autonomia, tempo a cumprir, fragmentação das tarefas, cobrança de produtividade, relação com a chefia, falta de conteúdo das tarefas, rotatividade de mão de obra, relações autoritárias, intensificação do ritmo de trabalho, terceirização das tarefas de risco, trabalhador desqualificado para o desempenho da atividade e falta de informações sobre as doenças (CUNHA; FREITAS, 2011).

A Saúde do Trabalhador refere-se a um campo do saber que visa compreender as relações entre o trabalho e o processo saúde/doença. Nesta compreensão, considera-se a saúde e a doença como processos dinâmicos, estreitamente articulados com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade em determinado momento histórico (QUEIROZ et al, 2015).

É construída através do desenvolvimento de atuações de vigilância dos riscos que se fazem presentes no meio e condições de trabalho, dos danos à saúde do trabalhador e de organização e fornecimento do auxílio aos trabalhadores, compreendendo os processos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada. Isto provoca uma atuação multidisciplinar e interdisciplinar, objetivando à conservação e à promoção da saúde, com ações de alcance coletivo (CAETANO, CRUZ, LEITE, 2010).

Dentro desta situação, desperta-se a atenção para a Fisioterapia no grupo na Saúde do Trabalhador. Onde tem-se mostrado como alternativa na complementação das demais modalidades terapêuticas, impulsionando modificações físicas, psicológicas e sociais. Muito além do tratamento cinesioterapêutico instituído e do esclarecimento sobre patologias, busca o convívio, a troca de experiências, a mudança de atitudes e percepções e o enfrentamento do adoecimento e da incapacidade (HENTGES, 2016).

Sendo assim, surge o seguinte problema: a fisioterapia oferece medidas preventivas contra a DORT?

Com o intuito de buscar informações técnicas científicas para responder tal problema, o objetivo geral desta pesquisa foi investigar a eficácia das medidas de prevenção contra DORT apresentadas pela fisioterapia conforme a literatura e os objetivos foram identificar as regiões corporais que estão mais suscetíveis a DORT, descrever as principais medidas preventivas da fisioterapia contra DORT e relatar os benefícios advindos das medidas preventivas em indivíduos com DORT.

METODOLOGIA

Segundo Gil (2017), esta pesquisa foi classificada em conformidade com a área de conhecimento como Ciências da Saúde, tendo como finalidade uma pesquisa de caráter bibliográfico, onde utilizou-se essencialmente das contribuições de diversos autores sobre deliberado assunto.

Foi empregada como forma de coleta de dados a busca artigos científicos, livros, periódicos, teses e dissertações de congressos científicos.

As buscas dos artigos foram realizadas nas seguintes bases: SCIELO (Scientific Electronic Library Online), MEDLINE (Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América) e LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde). Utilizou-se artigos que estava entre o período de 2009 a 2019.

Nesta direção foram utilizados os seguintes descritores de busca: dort, prevenção, fisioterapia. Os trabalhos foram selecionados, por leitura prévia do resumo, para compor a base bibliográfica deste estudo.

FIGURA 1 – Fluxograma de identificação e seleção dos artigos para revisão de literatura sobre a fisioterapia como prevenção na DORT, 2009 a 2019.

Número de artigos revisados No. = 35

Estudos identificados a partir de busca nas bases de dados
LILACS=10
MEDLINE=12
SCIELO=13
TOTAL=35

Artigos excluídos após leitura dos resumos
No.=29
TOTAL=35

Estudos incluídos na revisão
No.=6

Motivos de exclusão:
Textos incompletos;
Medidas não fisioterapêuticas como método precaução contra lesões causadas por DORT;
Estudos anteriores a 2009.

Fonte: Autora, 2019.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante dos artigos revisados na literatura, o quadro abaixo (Tabela 1) apresenta o resultado da presente pesquisa, contendo os dados sobre título do artigo, desenho do estudo e seus respectivos resultados.

Tabela 1 – Distribuição dos estudos segundo autor, ano, título, tipo de estudo, revista e resultados.

Autor/AnoTítuloTipo do estudoRevistaResultado do artigo
MARTINS et al, 2011.Exercícios físicos e seus efeitos nas queixas osteomusculares e na satisfação do trabalhoLongitudinalEnfermagemHouve redução do número de queixas osteomusculares, porém sem diferença em relação à satisfação no trabalho. Essa análise evidenciou que o número de queixas de desconforto/dor relatado pelos escriturários foi menor após o programa.
MARCON; STURMER, 2016.A ginástica laboral e os benefícios para a saúde do trabalhador: uma revisão narrativaRevisão narrativaInterdisciplinar de EnsinoVerificou-se a relevância da adoção da ginástica laboral nas empresas, como fator determinante na qualidade de vida do trabalhador, a partir da promoção de um programa preventivo, que resulte em um indivíduo saudável e produtivo em sua atividade profissional.
ZANDONADI et al, 2018.Importância da fisioterapia na prevenção de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalhoRevisão de literaturaColloquium VitaeApresentou resultados positivos em relação a medidas preventivas aos DORT, além de relatarem a consequente melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, o que reflete no aumento da produtividade, fato que enfatiza a importância da aplicação da fisioterapia preventiva.
JESUS JÚNIOR; CAMPOS, 2014.Lesões no sistema músculo esquelético em cirurgiões dentistasRevisão de literaturaEletrônica saúde e doençaUm grande número de lesões osteomusculares em cirurgiões-dentistas foi observado nos artigos encontrados. Essas são um dos principais fatores para limitação no trabalho e afastamento das suas atividades profissionais, sendo potencialmente necessária a intervenção da fisioterapia, por meio da ergonomia.
MARSHALL et al, 2018.Effectiveness of a multifactorial ergonomic intervention and exercise conditioning Kinesiology Program for subsequent work related musculoskeletal disorder preventionExploratório e transversalIOS PressO grupo de intervenção mostrou uma redução estatisticamente significativa dos casos agudos subsequentes quando comparado ao grupo controle. No entanto, não houve impacto significativo em relação à idade, posição ou sexo nos casos agudos subsequentes.
OLIVEIRA et al, 2015.Ocorrência de LER/DORT em cirurgiões-dentistasRevisão de literaturaInterdisciplinar de Estudos ExperimentaisA adequada orientação ao profissional e a adoção de medidas simples na prática clínica, na organização do espaço e do material de trabalho são fundamentais para evitar essas lesões.
LOURINHO et al, 2011.Riscos de lesão musculoesquelética em diferentes setores de uma empresa calçadistaExploratórioFisioterapia e PesquisaDestaca-se a importância de inter­venções ergonômicas, que modifiquem as condições atuais, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde e qualidade de vida dos trabalhadores.

Fonte: Autora, 2019.

No grupo de cirurgiões-dentistas, Jesus Júnior e Campos (2014) dissertam que alguns fatores que desencadeiam quadros de lesões englobam a atividade repetitiva, monótona e o esforço físico-postural, sendo que os aspectos da organização do trabalho podem ser os causadores. Oliveira et al (2015) declaram que o surgimento de doenças relacionadas ao trabalho está associado a fatores físicos e/ou biomecânicos que envolvem a repetitividade de movimentos, o uso da força associada à precisão, o estresse e a manutenção de posturas estáticas e inadequadas, principalmente da coluna e membros superiores.

As doenças geralmente encontradas na população de DORT são degeneração dos discos intervertebrais das regiões cervical e lombar da coluna, bursite, inflamação das bainhas tendinosas e artrite das mãos. Alguns quadros clínicos que podem indicar uma lesão podem ser sensação de peso, dormência, dor em movimento especifico, perda de sensibilidade, formigamento, dor generalizada ao repouso, perda de forca e inchaço (JESUS JÚNIOR; CAMPOS, 2014). Zandonadi et al (2018) também relataram queixas de dor pelos trabalhadores em diversas regiões do corpo, como na região cervical, nos ombros, na lombar, braços, pescoço, membros inferiores, coluna dorsal e cabeça, sendo que esta sequência.

Lourinho et al (2011) demonstraram que para tentar adequar e minimizar as dores e as posturas inadequadas observa­das em seu estudo, a cinesioterapia laboral apresenta-se como uma ferramenta para tentar melhorar a saúde e qualidade de vida dos indivíduos. Oliveira et al (2015) confirmam que é de extrema importância a incorporação de atividades físicas no meio de trabalho, aumentando a produtividade e melhorando a qualidade do trabalho, também com a eliminação de manobras não produtivas e desnecessárias.

Martins et al (2011) afirmam em que estudos anteriores o programa de exercícios físicos de alongamento e orientações durante cinco semanas em um grupo de recursos humanos de um hospital, reduziu o número de queixas osteomusculares, mesmo sem a intervenção no mobiliário ou na organização do trabalho. Corroborando com os Oliveira et al (2015), que descreve que os exercícios de alongamento são muito importantes na prevenção durante os intervalos da atividade do profissional, evitando problemas musculoesqueléticos. Para Marshall et al (2018) o programa de intervenção cinesiológica dentro da unidade de saúde foi eficaz na redução das taxas subsequentes de DORT, numa equipe de enfermagem desta empresa.

Outro instrumento bastante utilizado nas empresas como método preventivo é a ginástica laboral. Melo et al (2014) confirmou que a prática da ginástica laboral em digitadores foi positiva na prevenção da síndrome do túnel do carpo. dos Os benefícios dessa prática são a melhora nos aspectos fisiológicos, através do aumento da circulação sanguínea em nível da estrutura muscular, melhorando a oxigenação dos músculos e tendões e diminuindo o acúmulo do ácido lático; melhora a mobilidade e flexibilidade músculo articular; diminuição das inflamações e traumas; melhora da postura; diminuição da tensão muscular desnecessária; diminuição do esforço na execução das tarefas diárias; facilidade na adaptação ao posto de trabalho; e melhora da condição do estado de saúde geral (MARCON; STURMER, 2016).

Cardoso et al (2017), declaram que fisioterapia voltada à saúde do trabalhador deve elaborar ferramentas de diagnóstico da relação causal entre o problema de saúde e a situação ocupacional e conhecer as ferramentas oficiais existentes. O uso integrado desses instrumentos pode ampliar o entendimento do processo saúde-doença e subsidiar as ações fisioterapêuticas na organização do serviço e na elaboração do processo terapêutico. Para Zandonadi et al (2018) a junção entre ambiente ergonomicamente adequado com a prática de intervenção fisioterapêutica (como a ginástica laboral e orientações), podem apresentar efeitos positivos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que na prevenção da DORT através da fisioterapia, é realizada por meio de intervenções como, ginástica laboral, correção postural, ergonomia, programa de alongamentos. Para prática fisioterapêutica, são considerados instrumentos de acessíveis e de simples aplicação: que não requerem aparato dispendioso tanto para empresa quanto para o profissional. No entanto, ainda existem algumas empresas que ainda não adotaram a aplicação desses programas, demostrando que há necessidade de divulgação junto à comunidade organizacional, acadêmica, de profissionais de saúde e da classe trabalhadora em geral.

REFERÊNCIAS

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